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Não há dúvida de que a depressão apresenta não poucas características de uma doença social: antes de tudo a característica de estar muito espalhada e continuar a difundir-se cada vez mais.

Estranhamente, enquanto o progresso técnico e bem-estar conseguiram fazer diminuir a maior parte das doenças epidémicas, parece que, relativamente à depressão, viram dar-lhe um novo impulso.

É verdade que sobre a depressão, precisamente porque não se transmite por meio de bactérias ou ultravirus, até os quimioterápicos e os antibioticos mais recentes são ineficazes; contudo parece não haver dúvida de que tem realmente a capacidade de contagiar. Quantas pessoas obrigadas a conviver com algum deprimido não acabam por também adoecer com esta doença!

A depressão está tão difundida que alguns pensam que está estritamente ligada à natureza humana: a necessidade inata de felicidade no homem e a extrema parcimónia com que essa necessidade é satisfeita neste mundo seriam a primeira causa da depressão.

Entre a felicidade desejada pelo homem e a conseguida, há sempre um hiato quase impossível de preencher: daí uma sucessão de desilusões que a longo prazo abre caminho à depressão portanto à incapacidade de usufruir também daquele pouco de felicidade que nos é oferecida nesta terra.

A propósito, escreve o especialista Jacques Lavigne: “Há uma perpétua distância entre mim e a minha alegria e quanto mais procuro vivê-la mais me parece que perco as forças: como se os esforços que faço para conquistar a luz só servisse para tornar mais espessa e impenetrável a cortina que me separa dela”.

Se fosse assim, o único modo para evitar a depressão pareceria ser moderar e provavelmente anular o nosso desejo de felicidade. É uma receita que os homens sempre se propuseram, mas, mesmo que isso fosse possível, seria justo e oportuno? A necessidade de felicidade, como todas as necessidades, deverá ter o seu significado e o seu objetivo. Sem essa necessiade, não estaríamos ainda na idade da pedra?

De qualquer maneira, não é só o desejo insatisfeito de felicidade que nos leva à depressão. Não há dúvida de que a desordem que se infiltrou no nosso código genético com o pecado original tem um papel desprezível, ou até absolutamente determinante. Quantas pessoas com pais e avós deprimidos não conseguem escapar à depressão!

As dificuldades também têm peso importante. O sofrimento está por toda a parte, mas há pessoas que poderíamos dizer mais infelizes do que outras e que têm sempre de enfrentar doenças, desgraças e provações de todo o género, de tal modo que parecem devidas à sanha persecutória de algum ser maligno. Isso pode, a longo prazo, minar qualquer resistência e levar um pobre ser à desconfiança de si e dos outros e dai à depressão, como ultima estação de chegada.

Não é fácil vacinar-se contra uma doença como a depressão. Trata-se de um vírus de muitas caras como há pouco se disse, aparece onde se acumulam sofrimentos e desgraças, doenças e lutas, aparece também facilmente naqueles ambientes em que a vida parece correr mais serena, ou mesmo excessivamente alegre.

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